Inovando em tempos de escassez
A Van Hessen experimentou um crescimento nos últimos anos. Inovações no processamento de tripas e outros órgãos do envoltório intestinal tornaram a empresa uma das protagonistas na indústria de carnes. A fusão de 2017 foi o ápice desse processo. Em 2020, porém, surgiu uma nova situação. À medida que a pandemia do coronavírus se desenrolou, a escassez tornou-se perceptível em várias áreas. Toda a cadeia de suprimentos foi afetada. A VH Matters reuniu-se com Harald van Boxtel, Rowan Geldman, Paul van Lankveld, Leendert Klink e Rob Schouten para saber como a Van Hessen está reagindo à situação emergente.
Menos recursos. Como Van Hessen lida com isso?
O que está acontecendo?
“Há várias questões em jogo”, diz Harald. “Na Europa, esperamos processar menos envoltórios intestinais no curto prazo de tempo. Isso é causado pela atual discussão social em torno do nitrogênio, CO2 e do bem-estar animal. A ascensão de produtos vegetarianos e veganos também desempenha um papel significativo.” Na Alemanha, por exemplo, espera-se uma redução de quase 50% na suinocultura. “Já prevíamos isso e foi incluído no plano estratégico da Van Hessen, mas a velocidade com que está acontecendo nos surpreende.”
A tendência europeia deve ser vista num contexto mais amplo. O lockdown durante a pandemia do coronavírus interrompeu a cadeia de suprimentos internacional. O coronavírus também despertou uma nova consciência sobre a disseminação de doenças animais e trouxe uma nova visão para o setor de carnes. A crise do coronavírus foi rapidamente seguida pela guerra na Ucrânia, que provocou uma crise energética. Os países tornaram-se mais avessos ao risco. Novos regulamentos e restrições veterinárias deixam nossa cadeia de suprimentos mais complexa e causam atrasos.
“Isso afeta nossos clientes”, explica Rob, “porque a escassez causa preços mais altos. Estamos conversando com nossos clientes sobre isso. Temos que levar em consideração as consequências no preço. O departamento de Supply & Demand precisou trabalhar mais, enquanto a cadeia logística tornou-se mais longa. Os preços também estão sendo impulsionados pela inflação, o que provocou um aumento estrutural de preços.” Rowan também vê implicações na forma como as empresas operam. “Se você analisar o passado, verá que quando as matérias-primas são escassas, as empresas se adaptam por meio de fusões, para que alcancem uma maior escala.”
Rob Schouten
A escassez leva a preços mais altos, que também são impulsionados pela inflação. Estamos tendo conversas sobre isso com nossos clientes.
A Van Hessen, como muitas empresas do setor de carnes, enfrenta escassez de pessoal. O uso de mão de obra migrante funcionou por um tempo, mas agora esse modelo também está atingindo seu limite. “Procuramos pessoas para trabalharem em nossas salas de preparo: primeiro poloneses, depois romenos e búlgaros”, diz Leendert. “Já estão vindo pessoas das Filipinas, por exemplo, para trabalhar nos matadouros da Inglaterra. Que opções temos depois disso?” Esse é um problema, principalmente “porque o matadouro precisa primeiro ter as pessoas e só depois é que elas estarão disponíveis para a sala de preparo”, explica Paul. “A área de embutidos, isto é, a Van Hessen, é a primeira a enfrentar uma escassez de pessoas. Em alguns lugares, já precisamos descartar intestinos. Que perda!”
“De qualquer forma”, diz Harald, “temos um processo de separação em que o envoltório intestinal é retirado e vendemos os produtos processados. Sem matérias-primas ou pessoas suficientes para processá-las, não podemos atender nossos clientes. Prevíamos isso em 2017, mas a partir de 2020 a aceleração foi repentina”. Graças à prudência e à previsão, a Van Hessen concentrou-se estrategicamente em quatro áreas de interesse: mercados novos e existentes, valorização, estratégia de local para local e inovação. A Van Hessen pretende ser a melhor.
Harald van Boxtel
Além disso, a cadeia de abastecimento se tornou mais complexa. Obstáculos às vezes podem causar atrasos. Por conta da alocação, você quer estar mais próximo do cliente. De uma economia just-in-time, estamos nos movendo cada vez mais para uma economia de time buffer.
Mercados novos e já existentes
Para lidar com a escassez de matérias-primas, Harald diz que precisamos de uma fonte maior do que apenas a Europa. “Certamente, a Van Hessen já está presente na América do Norte em uma escala mais ampla, mas precisamos estar presentes em ainda mais lugares. Isso se aplica não apenas às tripas, mas também à mucosa e a outros produtos.” Durante a conversa, fica claro que a Van Hessen há muito tempo já vem se concentrando em uma estratégia global. “A beleza da nossa empresa é que você pode se movimentar com facilidade. Basta ir até onde existe uma grande suinocultura”, diz Leendert. Juntos, eles pensam em Chile, Paraguai, Argentina, México, Noruega e Romênia. Além de expandir para novas áreas, a Van Hessen também quer uma melhor entrada nos mercados existentes, especialmente na Europa. O Reino Unido, Alemanha e Espanha são mencionados. A Van Hessen enfrenta o grande desafio de aumentar a participação de mercado em uma indústria em retração. De acordo com Rob, “a escassez no mercado doméstico também nos obriga a escolher parceiros que se encaixem em nosso futuro. Permanecemos fiéis aos nossos clientes atuais, é claro, mas estamos liberando recursos para garantir que estejamos entre os vencedores do setor”.
Valorização
“Mas temos outras opções”, diz Rob. “Também podemos agregar valor aos nossos produtos. Van Hessen quer a melhor valorização de nossas matérias primas atuais e futuras. Desde a introdução da nova faca, já estamos obtendo um rendimento significativamente maior das nossas tripas. Nosso Centro de Competência da Sala de Preparo supervisiona a implementação mundial e a conformidade com as melhores práticas.”
Local for local
Além da valorização, ou seja, um rendimento maior, Harald também considera importante “estarmos mais próximos do cliente final pela matéria-prima que coletamos. A Van Hessen já tem uma posição sólida e devemos continuar focando nisso”. Dessa forma, não só há mais lucratividade, como a Van Hessen também acaba incorrendo em custos menores para levar o produto final ao cliente. Rowan observa com razão que, dessa forma, estamos passando de um modelo centralizado para um modelo descentralizado. De acordo com Rob, essa abordagem de local para local também ajuda a criar um apoio para a cadeia de suprimentos. No passado, enviávamos as tripas coletadas para a China e eram separadas lá, depois elas iam para o país de destino.
Paul van Lankveld
Ao selecionarmos em mais de um local, não só estamos mais próximos do cliente, como também podemos responder mais rapidamente a restrições veterinárias, problemas de capacidade e desafios logísticos, por exemplo.
“Como a China está mudando e implementando novos regulamentos, essa forma de trabalhar agora traz um risco”, diz Harald. “Tornar-se independente é difícil”, diz Paul. “Na China, temos uma máquina bem lubrificada. As demais localidades ainda precisam de muita atenção da gerência.” Ainda assim, a transição para a seleção descentralizada está em pleno andamento. A Van Hessen agora faz a seleção no Brasil, Paraguai, Egito e Marrocos. Existem dois aspectos adicionais. Leendert menciona a sustentabilidade: “Com o modelo de ampulheta, um produto precisa ser enviado duas vezes ao redor do mundo.” “A cadeia de suprimentos também se tornou mais complexa”, diz Harald, “e, para fins de alocação, você quer estar mais próximo do cliente. De uma economia just-in-time, estamos nos movendo cada vez mais para uma economia de time buffer.” “Nesse caso, precisamos transformar a escassez de instalações para a seleção fora da China em vários locais mais próximos do cliente”, conclui Paul.
Inovação
“Como a disponibilidade de mão de obra é um problema global, estamos pensando em automação e robotização. A mão-de-obra está se tornando cada vez mais escassa e cara”, diz Leendert. “Vimos que isso ia acontecer há cinco anos. Por meio da robotização e da automação, podemos aumentar a produtividade individual e, ao mesmo tempo, obter maiores retornos.” “A necessidade está aqui e agora”, diz Harald. “Nos EUA, eles já não estão coletando as matérias-primas em alguns lugares.” A Van Hessen também quer ter mais fábricas próprias e trabalhar com parceiros para tornar o processo ainda mais eficiente. “Aqui está uma oportunidade para nós”, diz Rob. Mas a inovação tecnológica é apenas um lado da solução. A Van Hessen também continua a investir em seus funcionários. É necessária uma nova geração de gerentes. “A idade média nesta sala mostra como isso é importante”, observa Leendert com sinceridade. “É por isso que precisamos de planejamento de sucessão além do planejamento de carreira”, acrescenta Rob. “É verdade”, responde Leendert, “o recrutamento continua sendo importante, principalmente de pessoas com o conhecimento e as habilidades certas. Através de nossa rede, temos muito sucesso em atingir nosso público-alvo. A equipe de qualidade também sabe como encontrar o caminho para a Van Hessen.”
Leendert Klink
Estamos focando na automação e robotização porque a mão-de-obra está se tornando cada vez mais escassa e cara. Ao mesmo tempo, valorizamos as pessoas que temos, cuidando bem delas e permanecemos comprometidos com o recrutamento.
Trabalhando junto com os vencedores
Parece que a Van Hessen está bem-preparada para os desafios do futuro. Estando sempre alerta às mudanças no mercado, na sociedade e reagindo a elas em tempo hábil, a Van Hessen está em uma excelente posição para lidar com a escassez de matérias-primas e de pessoal. Novos mercados são visados, os existentes tornam-se mais lucrativos e cada vez mais de local para local. A máxima valorização sempre foi a força motriz da Van Hessen, com atenção às pessoas e aplicando inovações podemos fazer isso cada vez melhor. Apesar de enfrentarmos uma cadeia de suprimentos complicada e a abundância de novos desafios. “Queremos atender os vencedores do mercado”, diz Rob. “Além disso, também queremos estar presentes para aqueles que atendem a um nicho de mercado e, portanto, permanecem importantes”, acrescenta Harald. “E lembre-se: fazemos isso tanto do lado da oferta quanto do lado da demanda. Nosso trabalho como gerente sênior é olhar adiante e estar ciente do que está acontecendo.” A Van Hessen estava acostumada ao crescimento e agora está se ajustando a uma nova situação. Mas, os passos certos para a descentralização, inovação e maior valorização, já foram dados.
Rowan Geldman
Com nossa estratégia de local para local, caminhamos para um modelo descentralizado onde, na medida do possível, colhemos e processamos produtos no mesmo país. Através das fusões, também podemos obter economias de escala localmente.